Projeto dissemina prevenção aos raios em Campo Grande

Postado por: Rodrigo Fioravante

As constantes descargas elétricas que encobrem Campo Grande, em especial nos dias de verão, sinalizam riscos que podem ser evitados com prevenção a partir de avisos prévios do que há por vir do céu.

Com a instalação de sensores de campo elétrico capazes de registrar a atividade elétrica das nuvens de tempestade em escolas estaduais, o projeto de extensão “Alerta-Raios na Escola: formação de monitores mirins, divulgação e prevenção de desastres causados por quedas de raios”, do Instituto de Física, dissemina conhecimento e segurança para a população em Campo Grande.

A iniciação prática do projeto ocorreu em maio de 2016 na Escola Estadual Amélio de Carvalho Baís, onde está instalado um dos cinco sensores desenvolvidos no Laboratório de Ciências Atmosféricas (LCA) da UFMS que promovem a comunicação de alerta de iminente descarga elétrica.

Neste primeiro semestre, mais um sensor deve ser instalado na Escola Estadual Lino Vilachá, no bairro Nova Lima, com a coordenação dos professores do Instituto de Física Moacir Lacerda e Clovis Lasta Fritzen, a participação de acadêmicos das áreas de Física, Engenharia de Produção, Engenharia Ambiental e Computação e a escalação de alunos do Ensino Médio.

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“A pesquisa de raio não é só para ficar contando descarga, saber qual local tem mais registros. Se ficássemos somente nisso não acrescentaríamos nada para a população. Temos de ter condições de dar o alerta, avisando que irá cair raio dentro de 10 a 15 minutos, sendo muito importante saber quando vai cair o primeiro”, explica o professor Moacir Lacerda, coordenador do projeto.

Esses alertas, enfatiza o professor, podem salvar vidas de pessoas que se encontram em locais mais propícios a receber as descargas, assim como podem reduzir danos com queima de eletrodomésticos e eletrônicos.

Conhecimento

Além de acrescentar informação de segurança às pessoas, o projeto une extensão, pesquisa e ensino. Na escola, os alunos do Ensino Médio participam de minicursos com aulas e vídeos que tratam de assuntos relacionados à temática.

“Na primeira aula, os alunos aprenderam sobre eletricidade, para entenderem o que é carga elétrica, campo elétrico. Depois fomos abordando sobre nuvem, o que é raio, como se forma, como se prevenir, entre outras questões e curiosidades, como os mitos”, explica a acadêmica de Física Keissy Carla, que coordena os demais acadêmicos do projeto.

Participaram do primeiro grupo alunos dos 1º e 2º anos do Ensino Médio da Escola Estadual Amélio de Carvalho Baís, em duas turmas de 15 alunos cada, com uma aula semanal.

Na unidade escolar foi instalado, próximo à entrada, o sensor de campo elétrico produzido pelo Laboratório de Ciências Atmosféricas (LAC) da UFMS que detecta o campo magnético, indicando a proximidade de chuva, nuvens de tempestade e possibilidade de queda de raio.

“A ideia era mostrar o site do LAC para os alunos e ensiná-los a entender o gráfico. O sensor trabalha em raio de 10 km e envia as informações diretamente para o site do LAC”, diz a acadêmica.

escola-alerta-raios-infi-ufmsOs estudantes participantes escolheram fazer a disciplina de meteorologia no contra turno escolar. “Eles demonstram muita dedicação. Na aula de nuvens, por exemplo, ficaram muito interessados, pois é muito legal olhar e saber identificá-las, saber o nome, tipo, porque elas não são iguais, possuem função e especificidades diferentes. Eles nunca mais irão olhar para o céu da mesma forma”, diz Keissy Carla.

O projeto também tem como objetivo formar observadores meteorológico mirins, aumentando dessa forma o número de pessoas atingidas com a disseminação prévia de avisos de descargas elétricas.

“Alguns estudantes diziam que faziam coisas que achavam interessantes, mas que deixaram de ter certas atitudes porque agora sabem que é perigoso”, expõe o professor.

Leiteira

Os sensores desenvolvidos no LCA são de baixo custo por terem sido desenvolvidos com materiais mais baratos, como a leiteira que cobre o equipamento e discos rígidos, podendo ser comercializado com um preço 70% inferior a similares disponíveis no mercado.

Segundo o professor Moacir Lacerda, já há empresas interessadas na produção e comercialização dodetector-campo-elétrico-alerta-raios-infi-ufms produto.

As informações geradas pelo sensor são transmitidas via rádio ou cabo ao computador que, por meio de um programa, armazena e processa os dados, então disponíveis para consulta no site do LCA (lca.ufms.br).

Esse projeto atinge também a parte de pesquisa, porque o banco de dados é alimentado com os dados provenientes dos sensores já instalados, e que deverão chegar ao número de dez até o final deste ano, enriquecendo estudos de iniciação científica, de graduação e pós-graduação.

“A estratégia de utilização desse sensor é inovadora, porque historicamente se utilizava só o valor do campo elétrico, que quando muito intenso, dá o alerta. Mas o rendimento médio desses sensores clássicos é na faixa de 40%. Temos um diferencial porque analisamos o comportamento do campo elétrico. Então quando a nuvem começa a dar sinal de atividade elétrica, nós já reconhecemos no padrão do sinal que estamos registrando e a partir daí já damos um alerta que em 10 a 15 minutos irá cair raio, com uma precisão de 80% extraoficialmente, mas um estudo mais sistemático deve aumentar esse percentual porque estamos acertando com muita frequência”, expõe o professor.

Trabalhando em parceria com o Centro de Monitoramento de Tempo, do Clima e dos Recursos Hídricos de Mato Grosso do Sul (CEMTEC/MS), em registro recente de forte tempestade no mês de janeiro último o LAC conseguiu dar alerta dez minutos antes de cair o primeiro raio.

“Estamos tentando ter o maior número de pessoas envolvidas no processo para que se capilarize mais”, diz Moacir Lacerda.

Cuidados

Raios são a segunda causa de morte por acidente natural. O Brasil é o país com maior registro de descargas elétricas no mundo, sendo Campo Grande a capital brasileira campeã nesses números, de acordo com levantamentos meteorológicos.

O primeiro cuidado para se prevenir é olhar para o céu, expõe a acadêmica Keissy. “Quando se vê nuvens mais escuras deve-se ficar atento. É preciso evitar ficar embaixo de árvore, que é uma ponta, mais alta, e atrai o raio, assim como não se deve andar em lugares planos sem proteção, sem construções ao redor, porque nesses casos a pessoa se torna a ponta”, explica.

O raio cai por que a carga negativa precisa encontrar a positiva. “A nuvem está com carga negativa e ela mesma induz carga no sentido oposto, no caso a positiva. Essa diferença de carga fica tão intensa que a carga tem de descer ou subir. Existem raios com pouca e muita energia, o que pode determinar a sobrevida ou não da pessoa atingida”, ensina Keissy.

Fonte UFMS

Uma reportagem sobre o projeto foi veículada também no Jornal Nacional e pode ser conferida aqui.